Tem um nazista comandando meu país

Nicoli Silveira
4 min readJul 30, 2021

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Ultimamente, o flerte entre o Bolsonarismo e o Neonazismo está cada vez mais explícito. Na segunda-feira (26), a deputada Beatrix von Storch, líder do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) e neta do ministro das Finanças de Adolf Hitler, Johann Ludwig Schwerin von Krosigk, postou em sua conta no Instagram uma foto sua com Jair Messias Bolsonaro (sem partido) no Palácio do Planalto.

O ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes, a presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados Bia Kicis (PSL-DF) e o deputado federal e um dos filhos do presidente Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) também se encontraram com Storch.

Na quarta-feira (28), o portal The Intercept Brasil também divulgou uma matéria sobre achados da pesquisadora e antropólogo Adriana Dias que mostravam publicações de Bolsonaro em sites neonazistas brasileiros. Dias constatou algo que já era esperado, esses grupos apoiam o presidente há pelo menos 17 anos.

Outros contatos de Bolsonaro com o neonazismo

A revista Veja publicou em seu portal um texto com o seguinte título: Um encontro que revelou muito sobre Bolsonaro. Sinceramente, não vi nada de revelador, apenas mais do mesmo. A base Bolsonarista não surpreende mais ao escancarar seu apreço por ideias radicais e supremacistas.

Como em 24 de março de 2021, quando o então assessor internacional da Presidência da República, Filipe Martins, fez um gesto ligado a grupos neonazistas de “OK” com as mãos, mas com três dedos retos, em forma de W, em plena transmissão da TV Senado.

Também, em janeiro de 2020, tivemos a fala de Roberto Alvim, ex-secretário especial de Cultura, que descaradamente citou uma frase do ministro de propaganda da Alemanha nazista, Joseph Goebbels, para divulgar o Prêmio Nacional das Artes.

O episódio dos paraquedistas em maio de 2020, ex-companheiros de armas de Bolsonaro, que o saudaram levantando o braço direito e gritando “Bolsonaro somos nós”. Na Revista Zum, Lilia Moritz Schwarcz, historiadora, doutora em antropologia e professora titular da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, explica em um artigo o porquê desse ato estar relacionado ao nazismo. “Paraquedistas, vestidos com roupas militares, entoam uma variação de Heil Hitler a partir do grito de ‘Bolsonaro somos nós’, selando uma espécie de compromisso coletivo, na base do ‘nós comum’, em torno dos ideais do presidente. No caso, porém, o gesto não evoca um ritual religioso, mas reforça um compromisso bélico numa nação que não está em guerra. Nesse sentido, indica uma possível guerra no horizonte político, e sinaliza lealdade ao dirigente”, explicou Shwarcz.

Além de inúmeras falas do próprio presidente que apenas inflama os ânimos de um país nascido e criado no preconceito. Por exemplo, quando em abril de 2019, o presidente da República deu uma declaração a jornalistas em Brasília, que chegou a lhe render uma sentença indenizatória, pela Justiça Federal de São Paulo. “O Brasil não pode ser o paraíso do turismo gay. Quem quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher, fique à vontade. Agora, não pode ficar conhecido como paraíso do mundo gay aqui dentro”.

Quem elegeu Bolsonaro foram os brasileiros

Desde que entramos na escola, aprendemos sobre os anos em que o nazismo assolou a Europa com suas ideais, que reverberam até hoje no resto do mundo. Quantas vezes, não vi imagens e relatos que me fizeram chorar, sentir raiva e confusão por simplesmente não entender como um ser humano pode subjugar outro daquela forma.

Usar símbolos nazistas não é uma liberdade de expressão, porque esses atos enaltecem um movimento que planejava extinguir uma boa parte da humanidade, por acharem que uma determinada raça, gênero, orientação sexual e religião eram superiores do que outras. Tenho ciência de que não é necessário descrever quais eram consideradas “puras” e quais não eram. Todas essas atrocidades foram feitas em nome da “família e dos bons costumes”. Essa mesma desculpa ainda é usada quando pessoas de má índole pregam os mesmos ideais fascistas.

Agora, o absurdo maior é pensar que o Brasil, provavelmente a nação mais miscigenada do mundo, tenha colocado, no mais alto posto de comando de um país, um homem que dissemina falas tão nocivas e que enaltece características de alguém como Hitler. Isso é algo que me faz refletir sobre os valores que foram passados de geração em geração.

Nossa pátria escancara essa herança ao ser o país que mais mata pessoas transexuais no mundo, ao ser o país onde houve um crescimento de 29,8% na taxa de registros de casos de racismo em 2020, na comparação com o ano anterior, ao ser o país que a cada seis horas e meia, uma mulher é assassinada.

Todos que votaram em Bolsonaro, mesmo os que se arrependeram depois da má gestão que Jair teve durante a pandemia de Covid-19, compactuaram com todo esse espetáculo de horror, relativizando o racismo, homofobia, misoginia, xenofobia, etc. Pois desde o primeiro momento que ele se expôs publicamente, Bolsonaro já mostrava suas ideias ultradireitistas. Ele nunca escondeu quem era e o que pensava.

Impeachment é pouco. Nazistas devem ser julgados e condenados, para que o mundo veja que não há mais lugar para discursos de ódio e desprezo pela diversidade que a humanidade possui e deve aprender a celebrar como algo positivo que une e que transforma. Hoje e sempre, fora Bolsonaro!

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Nicoli Silveira

Estudante de Jornalismo, feminista e apaixonada por escrever